sexta-feira, 30 de junho de 2006

O puerpério

Vamos considerar o puerpério como o período transitado pela mulher entre o nascimento do bebé e os dois primeiros anos de vida, apesar de que emocionalmente haja uma progressão evidente, entre o caos dos primeiros dias - pelo meio de um choro desesperado - e a capacidade de sair ao mundo com um bebé ao colo.

Para tentar submergirmos nos atalhos energéticos, emocionais e psicológicos do puerpério, penso ser necessário reconsiderar a duração real desta fase. Refiro-me ao facto de que os famosos 40 dias estipulados – já nem sabemos por quem, nem para quem -- têm que ver apenas com uma história moral proibitiva, para salvar a parturiente da necessidade sexual do homem/companheiro. Mas esse tempo cronológico não significa psicologicamente, um começo nem um final de nada.
A minha intenção – pela falta de um pensamento genuíno sobre o “eu” feminino na situação de parto, amamentação, criança e maternidade em geral - é desenvolver uma reflexão sobre o puerpério baseando-nos em situações que às vezes não são nem tão físicas, nem tão visíveis, nem tão concretas, mas que nem por isso são menos reais.

Vamos falar em definitivo do invisível, do sub mundo feminino, do oculto. Do que está para além do nosso controlo, para além da razão para a mente lógica. Tentaremos chegar à essência do lugar onde não há fronteiras, onde começa o terreno do místico, do mistério, da inspiração e a superação do ego. Para falar do puerpério, teremos que inventar palavras, ou outorgar-lhes um significado transcendental.

Para quem já passou por isso faz tempo, não dá vontade de recordar esse período tão desprestigiado, com reminiscências à tristeza, ao aperto e ao desencanto. Recordar o puerpério, equivale frequentemente a reordenar as imagens de um período confuso e sofredor, que engloba as ilusões, o parto tal como foi e não como tínhamos querido que fosse, dores e saudades, angústias e desesperos, o fim da inocência e o início de algo, que dói trazer outra vez à consciência.
Para começar a armar o puzzle do puerpério, é indispensável ter em conta que o ponto de partida é “o parto”, ou seja, a primeira grande “des-estruturação emocional”. Como descrevi no livro “La Maternidad y el encuentro con la propia sombra”, para que o mesmo aconteça, necessitamos que o corpo físico da mãe se abra, para deixar passar o corpo do bebé permitindo um certo “rompimento”. Este “rompimento” corporal também se realiza num plano mais subtil, que corresponde à nossa estrutura emocional. Há “algo” que se quebra, ou que se “des-estrutura” para alcançar a passagem de “um ser dois”.

É uma pena que atravessemos a maioria dos partos com muito pouca consciência relativamente a este “rompimento físico e emocional”. Já que o parto é sobretudo um corte, uma quebra, uma greta, uma abertura forçada, igual a uma erupção vulcânica que geme desde as entranhas e que ao soltar as suas partes profundas destrói necessariamente a aparente solidez, criando uma estrutura renovada.

Depois da “erupção do vulcão” (o parto) as mulheres encontram-se com o tesouro escondido (um filho nos braços) e além disso com pedras insólitas que se desprendem como bolas de fogo ao infinito (os nossos “pedacinhos emocionais”, ou as nossas partes desconhecidas), e temendo destruir tudo aquilo que apenas tocamos. Os “pedacinhos emocionais” vão queimando o que encontram pelo seu caminho e nós olhamos aturdidas sem poder acreditar na potência de tudo o que vibra no nosso interior. Vão Incendiando e caindo no precipício, manifestando-se por vezes no corpo do bebé, como um prado de pasto húmido, aberto e receptivo.
São as nossas emoções ocultas, que abrem as suas asas sobre o seu fresco e suave corpo. Como um verdadeiro vulcão, o nosso fogo desliza pelos seus vales receptores. É a sombra, expulsada do corpo.

Atravessar um parto é preparar-se para a erupção do vulcão interno, e essa experiência é tão devastadora que requer muita preparação emocional, apoio, acompanhamento, amor, compreensão e coragem por parte da mulher e de quem a pretende assistir.

Apesar disso, poucas vezes as mulheres encontram o acompanhamento necessário para se introduzir imediatamente nessa ferida sangrante, aproveitando esse momento, como ponto de partida para conhecer a nossa estrutura emocional renovada (geralmente bastante maltratada, por certo) e decidir o que faremos com ela.

O facto é que, com consciência ou sem ela, despertas ou adormecidas, bem acompanhadas ou sozinhas, incineradas ou a salvo - o nascimento acontece.

Infelizmente hoje em dia consideramos o parto e o pós-parto, como uma situação puramente física e de domínio médico. Submetemos-nos a um trâmite que, com alguma manipulação (anestesia para que a parturiente não seja um obstáculo, drogas que permitem decidir quando e como programar a operação), e uma equipa de profissionais que trabalhem coordenados, possam salvar o bebé corporalmente e felicitar-se pelo triunfo da ciência. Esta modalidade está tão enraizada na nossa sociedade, que as mulheres nem sequer se questionam se foram actrizes do seu parto ou meras espectadoras. Se foi um acto íntimo, vivido desde a nossa mais profunda animalidade, ou se cumprimos aquilo que se esperava de nós. Se pudémos transpirar ao calor das nossas chamas ou se fomos retiradas da cena pessoal antes de tempo.

Na medida em que atravessamos situações essenciais de rompimento espiritual sem consciência, anestesiadas, adormecidas, infantilizadas e assustadas... ficaremos sem ferramentas emocionais para reordenar os nossos “pedacinhos em chamas”, sentindo e vivendo o parto como uma verdadeira passajem da alma. Frequentemente, iniciamos assim o puerpério: afastadas de nós mesmas.

Anteriormente descrevíamos a metáfora do vulcão em chamas, abrindo e quebrando o seu corpo, deixando ao descoberto a lava e as pedras. Analogamente, do ventre materno, surge o bebé real, e também o interior desconhecido dessa mãe, que aproveita o rompimento, para deslizar-se entre as gretas que ficaram abertas. Estes aspectos ocultos encontram uma oportunidade para sair do refúgio. A sombra ( ou seja, qualquer aspecto vital que cada mulher não reconhece como próprio, a causa da dor, o desconhecimento ou o medo), utiliza “esta quebra” para sair do seu esconderijo e apresentar-se triunfante à superfície.
O problema para a mãe recente, é que se encontra com o bebé real que chora, chama, mama, queixa-se e não dorme… e simultaneamente com a sua própria sombra, desconhecida, sem limites, nem definição.

Mas, com que aspectos da sua sombra se encontra ela mais concretamente?
Cada ser humano tem a sua história pessoal e os seus obstáculos a percorrer, pelo qual, só um trabalho profundo de introspecção, procura pessoal, encontro com dores antigas e coragem, poderá guiar-nos ao interior dessa mulher que sofre através do menino que chora.
O puerpério é uma abertura da alma. Um abismo. Uma iniciação, se estivermos dispostas a submergirmos nas águas do nosso “eu” desconhecido.

Laura Gutman
Autora Argentina de “La Maternidad y el encuentro con la propia sombra”, “Puerperios y exploraciones del alma femenina” e “Crianza, violencias invisibles y adicciones”.
Tradução e adaptação de Luísa Condeço, autorizado pela autora. Revisão de Rita de Sousa. Junho de 2006.

terça-feira, 27 de junho de 2006

Feira Alternativa de Lisboa


No passado fim de semana a Associação Doulas de Portugal esteve representada na Primeira Mostra de Modos de Vida Alternativos na Cordoaria Nacional.
Os três dias de feira foram recheados de visitas de gente conhecida e de novas caras, muitos contactos e conversa animada. A todos quantos nos visitaram, um muito obrigada, e a todas as doulas cuja dedicação e empenho tornaram isto possível, um abraço de profundo agradecimento.

quarta-feira, 21 de junho de 2006

Artigo sobre as Doulas de Portugal


No próximo Domingo, dia 25 de Junho, sai mais uma peça sobre o papel das doulas na Humanização do Nascimento em Portugal, na Notícias Magazine, encarte do Diário de Notícias e Jornal de Notícias.

Pela mão da Anabela Oliveira, a quem enviamos um abraço de profundo agradecimento pelo interesse na nossa causa!

terça-feira, 20 de junho de 2006

Primeira mostra de modos de vida alternativo

A Associação Doulas de Portugal estará presente na Feira LISBOA ALTERNATIVA 2006 - que pretende ser um espaço que oferecerá ao visitante as melhores escolhas nas novas áreas de conhecimento e práticas no âmbito da Alimentação Natural, Saúde, Ecologia, Desenvolvimento Pessoal.

A Feira terá lugar na Cordoaria Nacional, em Lisboa.
A feira decorrerá de 23 a 25 de Junho de 2006.
Venham fazer-nos uma visita!

sexta-feira, 16 de junho de 2006

Muitos parabéns

Muitos parabéns à Doula Ângela pelo nascimento da sua filha, omtem às 12h e 56m, de parto natural, depois de cesariana!
Um grande beijinho de felicidades para todos.

quarta-feira, 14 de junho de 2006

Palestra na Escola Superior de Saúde de Beja


No passado dia 7 de Junho a vice-presidente das Doulas de Portugal esteve na Escola Superior de Saúde de Beja para uma palestra sobre as Doulas na Humanização do Nascimento em Portugal.
A sala esteve repleta de gente, entre alunos, professores e profissionais de saúde, com um ambiente muito agradável de partilha e troca de experiências.
Fica aqui o agradecimento à Drª Lurdes Rodeia pelo convite e um abraço ao pessoal da escola e às parteiras do Hospital de Beja pelo interesse e entusiasmo!
endereço para contacto: doulasdeportugal@yahoo.com

sábado, 3 de junho de 2006

Muitos parabéns!!

Muitos parabéns à Isabel Cortes pelo nascimento da sua filha!
Fica um abraço muito apertado de admiração e felicidade!

Parir em Espanha...até quando?

Espanha teme uma invasão de alentejanas em Badajoz, na sequência da entrada das grávidas de Elvas e Campo Maior.

Em resultado da reacção dos políticos da Extremadura, as portuguesas, dentro de seis meses, poderão ficar impedidas de dar à luz em Espanha.


O conselheiro [membro do governo regional] da Saúde e Consumo, Guillermo Fernández Vara, comprometeu-se ontem, na Assembleia Regional de Mérida, a declarar sem efeito, a partir de 1 de Janeiro de 2007, o acordo para que as portuguesas dêem à luz em Badajoz, se nos próximos seis meses, ficar demonstrado que esta colaboração “pontual” prejudica os extremenhos. Ouvida pelo CM, fonte do Ministério da Saúde português lembra que “há um protocolo assinado e que Espanha tem de assumir os compromissos”.

A assistência às portuguesas é contestada na Extremadura. A deputada popular Leonor Nogales considera este serviço “preocupante” porque se abrirá a porta a “meio milhão de portugueses” [sic].Fernández Vara sustenta que a deslocação de portuguesas ocorrerá só em situações pontuais. E advertiu que “tem a obrigação de atender os vizinhos lusos por razões de urgência”.A Administração Regional de Saúde do Alentejo (ARSA) reconhece que o acordo poderá ficar sem efeito. Contudo, as datas para o eventual fim do protocolo divergem: Fernández Vara diz que este “poderá ficar sem efeito a 1 de Janeiro”. Mário Simões, porta-voz da ARSA, precisa que “o protocolo tem a validade de um ano, sendo renovado automaticamente”.A ARSA desmente que o protocolo estabelecido com o Serviço Extremenho de Saúde abranja apenas situações pontuais e de urgência. “Ficou estabelecido que a parturiente poderá escolher ao mesmo nível entre Badajoz, Évora e Portalegre”.

Odete Neves, do Movimento Pró-Maternidade, diz que as declarações do conselheiro espanhol “só aumentam o clima de insegurança nas mulheres de Elvas”. No último ano nasceram em Elvas 262 crianças. Em Badajoz cerca de 2900, das quais 60 portuguesas. Apesar do bloco de partos ainda não ter encerrado, dentro de uma semana as grávidas de Elvas já terão de decidir entre Badajoz, Évora ou Portalegre.

Retirado do Correio da Manhã, 2 de Junho de 2006

Foto de Anabela Oliveira

sexta-feira, 2 de junho de 2006

Muitos Parabéns

Parabéns à Marta, pelo nascimento da sua filha Beatriz, na quarta-feira no HES de Évora.
Um beijinho da Luísa