Tive conhecimento da existência das doulas enquanto procurava uma preparação para o parto.
Só quando conheci a doula Luísa soube realmente o que era o trabalho de uma doula.
Iniciámos o acompanhamento por volta das 30 semanas de gravidez. Eu e o meu marido tínhamos encontros regulares com a doula onde expunhamos as nossas dúvidas e receios que ela prontamente esclarecia. Para além disso a doula Luísa esteve sempre disponível via e-mail e telemóvel a qualquer hora do dia ou da noite.
No decorrer do acompanhamento demonstrámos o nosso desejo de que o parto tivesse lugar em casa. Tal ideia já era anterior ao nosso encontro com as doulas no entanto só a começámos a materializar durante o acompanhamento precisamente porque sentimos o apoio da doula. Preparámo-nos então para que o parto acontecesse em casa mas este objectivo veio a ser abandonado já durante o trabalho de parto devido à ausência de uma parteira(o).
O trabalho de parto, que decorreu em casa durante 3 dias, foi sempre acompanhado pela doula que se deslocava até nossa casa, inclusive durante a noite, vigiando as várias fases do trabalho de parto e sossegando principalmente o meu marido. Ela falava baixinho e ajudava a sentir as contracções de forma muito positiva. Correu tudo lindamente.
A determinada altura, numa madrugada, a doula conversou connosco e disse-nos que achava melhor irmos para o hospital uma vez que o trabalho de parto já durava há alguns dias e em casa não tínhamos meios de ver se estava tudo bem com o bébé. Aceitei o facto com alguma tristeza pois não era isso que pretendia para o meu parto. Telefonei à minha médica para que ela avisasse o colega de serviço e fomos para o hospital. A própria doula conduziu-nos no carro dela até ao hospital.
E foi assim que no dia 23 de Novembro pelas 10h dei entrada no reino da tecnocracia, leia-se, Hospital Reynaldo dos Santos em Vila Franca de Xira.
Embora com bastantes contracções fui para a fila (extensa fila), fiz a ficha, esperei, fui à triagem, da triagem indicaram-me que me dirigisse ao piso de obstetrícia. Só estes procedimentos já estavam a atrapalhar e muito um trabalho de parto fantástico que eu trazia de casa. Mas isto era só o início...
Quando cheguei à obstetrícia uma enfermeira minha conhecida veio falar comigo e por volta das 10h40 entrei para a consulta. O médico era uma pessoa sem qualquer vislumbre de humanidade. Disse-me: "Dispa-se", observou-me e depois disse "Vista-se, mas não muito porque vai ficar internada". Mais tarde, na sala de dilatação e na sala de partos o comportamento do médico manteve-se, fui sempre tratada como uma doente que não o era e dentro deste falso estatuto fui tratada não como um ser humano, mulher e mãe no seu momento sagrado mas como um objecto do seu trabalho. Senti-me humilhada.
Entretanto fui sujeita a uma série de procedimentos, alguns deles degradantes para uma mulher em trabalho de parto, e principalmente, todos completamente desnecessários e desaconselhados pela OMS (Organização Mundial de Saúde).
Ninguém me pediu autorização para a realização dos procedimentos que envolviam a minha pessoa e o meu corpo, nem tão pouco fui informada de que iam ser realizados. Chegaram mesmo a injectarem-me substâncias sem me informarem do que se tratava e do porquê da injecção mesmo depois de eu questionar.
O Alexandre nasceu às 15h55 no meio de mais três procedimentos desnecessários: episiotomia, uso de ventosa e de fórceps. Isto porque o médico estava com muita pressa, o seu turno terminava às 18h e ainda tinha duas cesarianas para fazer e como o hospital não paga horas extraordinárias...
Nem durante a dilatação nem durante o parto permitiram a presença da doula nem do meu marido. Estive sempre sozinha. Aliás a solidão foi a dor maior e não tenho dúvidas que a presença da doula atenuaria a dor psicológica imensa que tenho do trabalho de parto (realizado no hospital) e do parto.
Logo depois do nascimento não me deixaram sequer ver o meu filho e só o vi duas horas depois quando mo trouxeram para mamar, como ele não mamou logo (porque não tinha vontade) levaram-no novamente e deram-lhe um biberão que ele vomitou. Devido a mais este procedimento inconsequente o meu filho passou mais de 48h numa incubadora com sonda gástrica, soro, monitorizado e longe de mim.
Sei que o seu trabalho não se centra no atendimento hospital mas sim no trabalho das doulas mas creio que os dados que lhe transmito no parágrafo anterior são importantes para vermos que o que a doula fez o ambiente hospitalar desfez. Depois de uma gravidez fantástica sem qualquer tipo de problema ou preocupação, uma preparação para o parto acompanhada pela doula Luísa e o trabalho de parto também acompanhado pela doula onde sempre fui tratada com respeito e carinho, chego ao hospital e toda a preparação anterior cai por terra e no seu lugar aparece a dor e a revolta de um tratamento indigno.
O acompanhamento pela doula durante a gravidez foi essencial para que eu pudesse viver a minha gravidez de uma forma bastante saudável e informada. Creio que se não fosse a assistência da doula Luísa durante a gravidez o meu filho não teria nascido no dia 23, como a natureza determinou mas no dia 9 de Novembro, data em que a minha médica queria que eu fizesse um parto induzido. Opção que nós recusámos precisamente porque estávamos informados dos riscos e consequências inerentes a uma indução de parto.
Já no pós-parto o acompanhamento pela doula continuou e posso dizer-lhe que foi determinante no sucesso da amamentação e no facto de eu não ter “caído” em depressão pós-parto. Assim que regressei do hospital a doula Luísa veio visitar-nos, trouxe-nos uns bolinhos e uma prendinha para o Alexandre, conversámos e estas visitas repetiram-se nos momentos mais críticos sempre que precisei.
O trabalho das doulas é fantástico!
Lídia Matos
1 comentário:
E digo mais: O trabalho das doulas é mesmo fantástico!!!
;o)
Beijinhos e abraços
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