Exmos. Srs.
A Associação Doulas de Portugal, após tomar conhecimento do vosso parecer n.º P/12/APB/08 sobre o direito de escolha da via de parto vem por este meio expor o seguinte:
Consideramos que o parto deve ser encarado como um evento fisiológico e natural que deve decorrer em ambiente íntimo, privado e com nenhuma ou com o mínimo de intervenção desnecessária possível, sendo este um evento da família e para a família.
O parto por cesariana não é um acto inócuo, a operação cesariana é considerada uma cirurgia de grande porte com contra-indicações comprovadas em estudos reconhecidos internacionalmente pela comunidade científica, com contra-indicações para a mãe e para o bebé.
A problemática da humanização do parto não pode centrar-se apenas na escolha de uma via de parto. Em nossa opinião, o parto humanizado é muito mais do que a opção de escolha da via de parto, é muito mais que um tratamento gentil, carinhoso, atencioso e focado apenas nas necessidades afectivas da mulher. Um parto humanizado é aquele em que a mulher é respeitada nas suas opções, a ela cabe o poder de decisão sobre eventuais procedimentos durante o parto, onde são evitados procedimentos agressivos, rotineiros e que na maior parte dos casos não lhe trazem a si nem ao seu bebé mais-valias. Existem recomendações da Organização Mundial de Saúde que têm como finalidade um parto humanizado.
A questão que colocamos é esta: porque tantas mulheres optam/optariam por uma via de parto que é claramente mais prejudicial aos seus corpos e aos seus bebés? A resposta é fácil, basta apenas conhecer a realidade dos partos hospitalares que ocorrem em Portugal para compreender porque tantas mulheres preferem alienar-se do acto de parir um filho transformando-o num evento cirúrgico. Só conhecendo essa realidade é que se poderá compreender como a escolha da cesariana por parte da mulher pode ser na grande maioria dos casos uma opção pela dignidade. É evidente que por detrás dessa escolha existem outras razões do foro psicológico, social, cultural e sexual.
Em nossa opinião, este parecer não beneficia os interesses das mulheres e dos seus filhos como beneficia os técnicos que actuam na área da obstetrícia. A prática de cesarianas estimula a economia (principalmente no sector privado), poupa ainda mais o escasso tempo dos técnicos de saúde, evita surpresas nocturnas e de férias e propicia aos obstetras uma salvaguarda para qualquer incidente negativo que possa eventualmente acontecer durante um parto (Não são raros os casos de obstetras processados por negligência ao terem insistido num parto vaginal mas não o contrário).
No entanto, felicitamos a Associação Portuguesa de Bioética pelo vosso interesse na problemática do parto e bem-estar físico e psicossocial das mulheres/casais mas acreditamos que as mulheres/casais e seus filhos beneficiariam muito mais se fosse emitido um vosso parecer sobre o direito ao seguimento das recomendações da Organização Mundial de Saúde no atendimento ao parto vaginal em meio hospitalar.
Com os melhores cumprimentos,
Cristina Silva
Vogal da Direcção
O parto por cesariana não é um acto inócuo, a operação cesariana é considerada uma cirurgia de grande porte com contra-indicações comprovadas em estudos reconhecidos internacionalmente pela comunidade científica, com contra-indicações para a mãe e para o bebé.
A problemática da humanização do parto não pode centrar-se apenas na escolha de uma via de parto. Em nossa opinião, o parto humanizado é muito mais do que a opção de escolha da via de parto, é muito mais que um tratamento gentil, carinhoso, atencioso e focado apenas nas necessidades afectivas da mulher. Um parto humanizado é aquele em que a mulher é respeitada nas suas opções, a ela cabe o poder de decisão sobre eventuais procedimentos durante o parto, onde são evitados procedimentos agressivos, rotineiros e que na maior parte dos casos não lhe trazem a si nem ao seu bebé mais-valias. Existem recomendações da Organização Mundial de Saúde que têm como finalidade um parto humanizado.
A questão que colocamos é esta: porque tantas mulheres optam/optariam por uma via de parto que é claramente mais prejudicial aos seus corpos e aos seus bebés? A resposta é fácil, basta apenas conhecer a realidade dos partos hospitalares que ocorrem em Portugal para compreender porque tantas mulheres preferem alienar-se do acto de parir um filho transformando-o num evento cirúrgico. Só conhecendo essa realidade é que se poderá compreender como a escolha da cesariana por parte da mulher pode ser na grande maioria dos casos uma opção pela dignidade. É evidente que por detrás dessa escolha existem outras razões do foro psicológico, social, cultural e sexual.
Em nossa opinião, este parecer não beneficia os interesses das mulheres e dos seus filhos como beneficia os técnicos que actuam na área da obstetrícia. A prática de cesarianas estimula a economia (principalmente no sector privado), poupa ainda mais o escasso tempo dos técnicos de saúde, evita surpresas nocturnas e de férias e propicia aos obstetras uma salvaguarda para qualquer incidente negativo que possa eventualmente acontecer durante um parto (Não são raros os casos de obstetras processados por negligência ao terem insistido num parto vaginal mas não o contrário).
No entanto, felicitamos a Associação Portuguesa de Bioética pelo vosso interesse na problemática do parto e bem-estar físico e psicossocial das mulheres/casais mas acreditamos que as mulheres/casais e seus filhos beneficiariam muito mais se fosse emitido um vosso parecer sobre o direito ao seguimento das recomendações da Organização Mundial de Saúde no atendimento ao parto vaginal em meio hospitalar.
Com os melhores cumprimentos,
Cristina Silva
Vogal da Direcção
2 comentários:
Por questões FÍSICAS não pude ter o meu bebé por parto normal, sofri dores horríveis, e a enfermeira me chamou de animal porque eu gritava de dor. Foram 6 horas de sofrimentos físicos e psicológicos que acabaram numa cesariana. Os físicos eu superei, mas os psicológicos até hoje me atormentam. Não quero passar mais uma vez pelo que eu passei - gostaria de poder ter o Direito de optar como quero ter o meu filho, assim como algumas mulheres tem o Direito de matar o próprio filho, antes mesmo deste ser poder dizer "Quero Nascer".
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