domingo, 30 de outubro de 2005

Induções...

Hoje em dia, é proposto a muitas mulheres a indução do parto, quando o bebé não quer nascer a partir da 40ª semana... e às vezes até antes (dizendo-se que já pode nascer, já está de termo...), sem que haja qualquer situação clínica que o justifique. Muitas mães aceitam (algumas até o sugerem, de tal forma a indução está banalizada)... estão cansadas de estarem grávidas, já se sentem desconfortáveis, ansiosas por conhecerem o seu filho, e geralmente não questionam a proposta de um obstetra.

Mas o facto de se estar no final da gestação, não significa que o bebé esteja preparado para nascer... só significa que sobrevive sem problemas aparentes. Mas o que é que nós desejamos para os nossos filhos? Que simplesmente sobrevivam? Ou que nasçam no momento que lhes é mais favorável, aquele que eles próprios determinam em harmonia com o corpo da mãe?

As mulheres não são todas iguais, e os bebés não amadurecem todos no mesmo “prazo”, tal como os frutos de uma mesma árvore não amadurecem todos ao mesmo tempo.
Se o bebé ainda não nasceu não será porque ainda não está preparado para nascer? Vivemos numa sociedade cada vez mais imediatista, consumista e crente na tecnologia... e isso também se reflecte na forma como temos os nossos filhos.
Se procurarmos as respostas no conhecimento da fisiologia, sabemos que é o bebé que deve dar o sinal para iniciar o trabalho de parto. Quando os seus pulmões atingirem o auge da maturidade ele liberta hormonas que despoletam o trabalho de parto, estimulando o hipotálamo da mãe a produzir a hormona natural oxitocina, que por sua vez provoca as contracções uterinas.
Isso significa que o bebé vai nascer no momento que respeita o desenvolvimento óptimo de cada criança, escolhido por ela.

Que tipo de mensagem enviamos ao nosso filho quando não lhe deixamos que ele próprio faça aquilo para que foi biologicamente destinado? É um primeiro acto de auto-determinação que lhe é negado. “Não vais nascer quando quiseres, mas sim no dia que dava jeito à mãe ou ao médico”.
Não existe uma data fixa para o nascimento e não há razão para se pensar que um bebé tem forçosamente que nascer até às 40, às 41 ou mesmo às 42 semanas, até porque às vezes a idade gestacional não está bem definida. Deve-se considerar um período provável para o nascimento (entre as 38 e as 42 semanas após o primeiro dia do último período menstrual) e não uma “data prevista” pois isso simplesmente não existe. Ainda assim, no final de uma gestação prolongada, deve-se acompanhar com maior atenção o bem-estar do bebé, contando os movimentos, ouvindo o coração diariamente, verificando se há perdas de líquido com cor esverdeada, fazendo uma ecografia em caso de ansiedade ou dúvidas.
Se estiver tudo bem, para quê induzir? A indução tem riscos sérios e uma grande parte das induções falha resultando em cesariana ou partos vaginais complicados, instrumentalizados e muitas vezes traumáticos para mãe e filho. Quando a indução resulta é porque muito provavelmente o bebé estava para nascer nessa altura de qualquer modo. Então não valerá a pena esperar?

Num parto induzido, é administrada à mulher pitocina (oxitocina artificial) através do soro intravenoso, com o objectivo de imitar a acção da oxitocina natural. Esta hormona sintética liga-se aos receptores uterinos para a oxitocina natural, inibindo a sua produção e recepção normal. As contracções induzidas artificialmente são mais dolorosas, mais agressivas para o útero (aumentando o risco de ruptura uterina) e mais perigosas para o bebé, que pode entrar em stress mais facilmente, o que é muitas vezes sinalizado pelo CTG e lá se vai para a cesariana, com todas as desvantagens que esta grande intervenção cirúrgica acarreta para o bebé e para a mãe. Além disso a pitocina, ao contrário da oxitocina natural segregada pelo nosso hipotálamo, não atravessa a barreira cerebral da mãe e portanto não tem efeitos comportamentais ao nível do vínculo precoce mãe-bebé.
Como as contracções induzidas artificialmente são mais dolorosas e arrítmicas, a mãe sente maior necessidade de recorrer à anestesia epidural, que também acarreta um conjunto de riscos para mãe e filho, nomeadamente aumenta a probabilidade de um parto instrumentalizado e da separação precoce mãe-filho, para observação e intervenção, interferindo com o vínculo precoce e o sucesso da amamentação e potenciando também situações de depressão materna pós-parto.
No parto fisiológico, quando se deixa o nosso próprio corpo conduzir o processo, as contracções naturais são mais suaves, rítmicas e adaptam-se às necessidades do bebé. Vão crescendo gradualmente em duração e intensidade, intermediadas por intervalos de descanso. Quando não se interfere com este processo, o nosso organismo segrega juntamente com a oxitocina, outras hormonas benéficas, nomeadamente as endorfinas que atenuam a sensação de dor e suavizam o processo para mãe e filho.

Muitos partos traumáticos e cesarianas poderiam ser evitados hoje em dia, se as mulheres fossem devidamente informadas dos riscos dos procedimentos e se se responsabilizassem por fazer as suas próprias escolhas informadas e conscientes, ao invés de se demitirem dessa responsabilidade e assumirem que um profissional de obstetrícia é quem melhor pode decidir por si. Os médicos com uma postura humanista sabem que devem encorajar a mãe a tomar as suas próprias decisões, com base nos factos e nas evidências científicas, e não em conveniências pessoais e institucionais. Para contrariarmos um sistema industrializado de nascimentos, para que o nascimento em Portugal caminhe no sentido de ser uma experiência positiva, gratificante e verdadeiramente saudável e segura para cada mulher e seus filhos, nós mulheres precisamos de ter a informação e o apoio necessário nessa altura das nossas vidas e resgatarmos para nós um papel central na condução dos nossos partos.

Mais informação:
http://hencigoer.com/articles/ ver os artigos sobre Induction of labour
http://www.motherfriendly.org/Downloads/induct-fact-sheet.pdf Riscos da Indução
http://www.maternitywise.org/mw/topics/birthsetting/ Fisiologia do parto – as hormonas naturais
http://www.holistika.net/articulo.php?articulo=54019.html Violência hospitalar – o uso da pitocina

segunda-feira, 24 de outubro de 2005

O Sol e a Gravidez - pesquisa

Exposição solar materna, durante o 1º trimestre está associada a alto peso, à nascença, em bebés humanos

Palavras-chave da pesquisa: peso à nascença; temperatura ambiente; gestação; factor de crescimento insulina; crescimento fetal

Abstracção/Hipótese

Foram geradas 2 hipóteses alternativas para comprovar a variação sazonal no peso à nascença de bebés humanos, em países industrializados. A 1ª, corresponde à teoria hipotética de que uma baixa temperatura ambiente durante o 2º trimestre de gestação resulta num decréscimo do peso à nascença.

A 2ª, corresponde à teoria hipotética que a exposição à luz solar durante o 1º trimestre resulta num aumento de peso à nascença.
Estas 2 hipóteses foram testadas para que se determinasse qual, ou se nenhuma, comprovava a existência de uma variação sazonal no peso à nascença em bebés de termo. Dados relativos ao peso à nascença, recolhidos num período de 5 anos, foram analisados em função de intensidade de exposição à luz solar (elevada ou diminuta) e temperatura ambiente. Apesar de não se registar nenhum efeito da temperatura ambiente, no peso à nascença, durante nenhum dos trimestres, bebés cujas mães tiveram uma intensa (elevada) exposição à luz solar, durante o 1º trimestre, nasceram significativamente mais pesados do que bebés cujas mães tiveram uma fraca (diminuta) exposição à luz solar, durante o mesmo período (1º trimestre). Para além destes dados verificou-se ainda que, bebés cujas mães em que a exposição à luz solar se registou nos níveis mais baixos, durante o 2º e 3º trimestres, nasceram significativamente mais pesados, do que bebés cujas mães em que a exposição à luz solar foi de nível mais elevado, durante o mesmo período (2º e 3º trimestre).
A conclusão expressa a hipótese de que elevados níveis de luz solar durante o ínicio da gestação podem aumentar o nível do factor de crescimento como insulina (IGF)-1, facilitando o crescimento pré-natal.

Fonte: Karen Tustin, Julien Gross, Harlene Hayne - Psychology Department, University of Otago, Dunedin, New Zealand
© 2004 Wiley Periodicals, Inc. Dev Psychobiol 45: 221-230, 2004

Traduzido e adaptado por Sónia Sousa

sexta-feira, 21 de outubro de 2005

Epidurais reduzem a dor mas podem aumentar o uso de fórceps

Public release date: 19-Oct-2005
Contact: Amy Molnar amolnar@wiley.com

The Cochrane Library newsletter,2005, Issue 4 – The best single source of reliable evidence about effects of health care

O alívio da dor é um assunto importante para mulheres em trabalho de parto, e as epidurais são cada vez mais frequentes.
Estas reduzem a dor mas aumentam a probabilidade de um parto instrumentalizado. Actualmente existe uma lacuna de evidências que comprovem que as epidurais aumentem o risco de ocorrência de cesarianas, no entanto, mulheres a quem seja administrada epidural têm um segundo estádio de trabalho de parto mais longo, comparado com aquelas que foram sujeitas a outras formas de alívio da dor.

As epidurais, introduzidas em 1946, são agora usadas por 1/5 das mulheres do Reino Unido e por metade das mulheres nos EUA, durante o trabalho de parto. Numa analgesia epidural, agentes anestésicos são injectados na região baixa da coluna. Este processo bloqueia a actividade nervosa e transmite estímulos indolores do canal de parto para o cérebro, o que resulta no alívio da dor.

Uma revisão sistemática da literatura incluindo 21 estudos de analgesia epidural no trabalho de parto, envolvendo 6664 mulheres. The Cochrane Reviews Authors tiraram várias conclusões a partir destes dados.

Comparativamente com mulheres que usaram outras formas de alívio da dor, mulheres sujeitas a epidural têm maior alívio da dor, segundo estádio de trabalho de parto mais longo, aumento da probabilidade de partos instrumentalizados, e aumento da probabilidade de ter febre durante o trabalho de parto.

Encontrou-se alguma falta de evidências que as epidurais afectassem os recém-nascidos, aumentassem a probabilidade de partos por cesariana, aumentassem a probabilidade de dores nas costas a longo termo, e afectassem a satisfação materna.

“As evidências nesta revisão têm que ser disponibilizadas a mulheres que considerem a hipótese de alívio da dor em trabalho de parto,” diz o autor principal Millicent Anim-Somuah, Investigador Honorário na School of Reproductive and Development Medicine, no Liverpool Women’s Hospital NHS Trust, Liverpool, Reino Unido.

Review title: Anim-Somuah M et al. Epidural versus non-epidural ornoanalgesia in labour.The Cochrane Database of Systematic Reviews 2005, Issue 4.

quinta-feira, 20 de outubro de 2005

Relação entre Amamentação e Alergias.

Actualização efectuada à pesquisa com o tema: Relação entre o Prolongamento da amamentação e redução das dermatites atópicas e asma – 30 de Agosto 2005.

Pesquisas na Alemanha sugerem que, quanto maior for o período de amamentação menor é o risco de alergias na primeira infância, sobretudo em crianças cujas mães não têm um histórico familiar. A mesma pesquisa propõe mecanismos que podem explicar esse efeito protector.

Foi medida a concentração do solúvel CD14 - que desempenha um papel importante na imunidade inata - no leite de 803 mães, durante 6 meses após o parto. A incidência de dermatites atópicas e asma foi registada durante os 2 anos seguintes.

Verificou-se que, a incidência mais baixa de dermatites em crianças ocorreu naquelas que foram amamentadas entre 6 a 9 meses e, cujas mães não apresentavam qualquer histórico de doenças atópicas. Também se observou uma associação inversa entre a duração do período de amamentação e o risco de asma (P=0.01) - ou seja, quanto maior o período de amamentação, menor o risco de vir a sofrer de asma.
O efeito protector da amamentação era sinergético (efeito resultante de) com concentrações do solúvel CD14 no leite materno.

Tothenbacher D et al (2005), Breastfeeding, soluble CD14 concentration in breast milk and risk of atopic dermatitis and asthma in early childhood: birth cohort study._Clin Exp Allergy_35:1014-21.

Esta é uma actualização da UNICEF UK Baby Friendly Iniciative.

Fonte: UNICEF UK Baby Friendly Iniciative http://www.unicefcomms.org.uk
Texto traduzido e adaptado por Sónia Sousa

terça-feira, 11 de outubro de 2005

Exercícios vs. dor no parto (pesquisa)

Segundo artigo divulgado pela Agência FAPESP (Fundação de Amparo à Pesquisa no Estado de São Paulo), as mulheres que fazem exercício com regularidade estão mais preparadas para enfrentar as dores do parto. Os benefícios estendem-se também às sedentárias que praticam actividades físicas, de intensidade moderada, durante a gravidez, mais concretamente a hidroginástica.

A tese é da fisioterapeuta Erica Passos Baciuk, em doutoramento apresentado no Departamento de Tocoginecologia da Faculdade de Ciências Médicas da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). “Na literatura médica sempre existiu a dúvida quanto às vantagens de se iniciar uma atividade física no meio da gestação”, disse a pesquisadora à Agência FAPESP.

Para verificar a hipótese, Erica propôs que 78 mulheres que não praticavam exercícios há pelo menos oito meses se dividissem em dois grupos. Um deles passaria a frequentar aulas de hidroginástica três vezes por semana enquanto as mulheres do segundo grupo permaneceriam sem se exercitar.
Atendidas pelo serviço pré-natal do Hospital Universitário da Unicamp, as voluntárias deveriam estar grávidas de apenas um bebé e ter gestação de baixo risco. Todas elas passaram por avaliações físicas “ na 20ª semana de gestação, na 25ª e e na 35ª “ para que fossem testadas as suas capacidades cardiovasculares e as dos seus bebés.

De acordo com a pesquisadora, a prática de exercícios não interferiu no tipo de parto ou na duração dele e, sim, na capacidade de a mulher se sentir mais disposta no final da gestação, suportando melhor a dor das contracções até o nascimento do bebé.
“As mulheres que fizeram hidroginástica e tiveram parto normal solicitaram menos analgésicos do que aquelas que não se exercitaram”, conta a fisioterapeuta. Ela conseguiu acompanhar o nascimento dos bebés de 70 mulheres. Entre aquelas que deram à luz de parto normal, 27% das praticantes de ginástica pediram analgésico contra 65% das sedentárias.
De acordo com a pesquisadora, mesmo evoluindo para cesárea “ em casos onde houve riscos para mãe ou para o bebê “ o parto das mulheres que se exercitaram foi mais tranqüilo.

O trabalho de Erica Passos Baciuk fez parte de um estudo colectivo sobre gravidez e exercícios, desenvolvido no Centro de Atenção Integral à Saúde da Mulher (Caism), da Unicamp, que engloba outras quatro pesquisas de mestrado e doutoramento. Os resultados serão apresentados durante o 26º Congresso Brasileiro de Fisioterapia, de 5 a 10 de outubro, em São Paulo.

Fonte: http://www.agencia.fapesp.br/boletim_dentro.php?data%5bid_materia_boletim%5d=4423, por Karin Fusaro, em 03/10/2005 - adaptado por Sónia Sousa

segunda-feira, 10 de outubro de 2005

Entrevista com Sheila Kitzinger - A mulher que conseguiu pôr o nascimento na lista de prioridades dos políticos britânicos

Deixamos aqui o excerto de uma esclarecedora entrevista com Sheila Kitzinger.

QUEM É :
Professora de enfermeiras obstetras, Sheila Kitzinger , 75 anos, corre mundo a falar da experiência do parto. Filha de uma parteira – que criou uma das primeiras clínicas de planeamento familiar, no Reino Unido –, percebeu, quando entrou para a faculdade, em Oxford, que toda a antropologia social andava à volta de visões masculinas.

CONDECORAÇÕES :
Agraciada com a Ordem do Império Britânico, pelos seus serviços à educação sobre o parto.

LIVROS :
Mais de 20. Três – Mães, A Experiência do Parto e Um Estudo Antropológico da Maternidade – estão disponíveis em português.
Visão: O que fez para ser considerada a «mãe do parto», no Reino Unido?

SHEILA KITZINGER: No passado, o nascimento era considerado uma acto pessoal e biológico, tão antigo que não havia nada para dizer sobre ele. Eu fui a primeira pessoa a falar do parto como uma experiência. Não importa apenas se a mulher e o bebé estão vivos e de boa saúde, mas também como foi a experiência para a mãe. Isso tem implicações na forma como vai encarar a maternidade, a sua relação com o bebé e com o pai. Comecei a falar disto há 40 anos.
V.: Como é que o trabalho de uma parteira é mais seguro do que o de um obstetra?

S.K.:
As parteiras são especialistas em partos normais. Os obstetras, em partos anormais. Quando se trata o parto normal como se fosse anormal, acaba por se fazer dele anormal: intervém-se, administram-se drogas, estimula-se o útero para uma actividade artificial. E isso é perigoso.

V.: Que perigos têm essas intervenções médicas?

S.K.: Quando se estimula o útero de forma desnecessária, pode-se bloquear o fluxo sanguíneo na placenta, o que reduz o sangue oxigenado para o bebé. Além disso, as contracções são muito dolorosas e as mulheres não as conseguem controlar com relaxamento e respiração. Acabam por precisar de drogas contra a dor. Com essas drogas vêm outros efeitos secundários. É um ciclo. Uma intervenção leva a outra e acaba-se com um parto medicamente assistido.

sexta-feira, 7 de outubro de 2005

A melhor opção é a informação - Casas de Parto no Brasil

Donas do próprio parto

Elas pertencem às classes média e média alta, têm nível superior e plano de saúde. Mas, para terem os seus bebés, preferem recorrer a casas de parto do Sistema Único de Saúde, do que optar pela megaestrutura oferecida pelos hospitais privados. Ter a hipótese real de um parto humanizado, fugir de uma cesariana, acreditar que o nascimento é um acto fisiológico e não médico e desejar suporte emocional e não apenas tecnológico. Esses são alguns dos motivos enunciados por mulheres que, acima de tudo, alegam querer ser "donas" de seus próprios partos.
Todas têm em comum a intenção de evitar as sucessivas intervenções médicas que fazem parte das rotinas hospitalares e seus procedimentos - padrão - que vão desde a raspagem dos pêlos púbicos (tricotomia) ao corte e à sutura no períneo (episiotomia), passando por lavagens intestinais, rompimento induzido da bolsa de águas (amniotomia) e uso de ocitocina para acelerar o nascimento.
Hoje, há no país 14 casas de parto (ou Centros de Parto Normal, como são chamadas na portaria do Ministério da Saúde que as criou, em 1999). Todas fazem parte do sistema de saúde pública.
"A mulher está mais informada e percebeu que a melhor maneira de ter seu bebê é com o mínimo de intervenção. Como o serviço privado ainda não tem essa alternativa para oferecer, ela está migrando para a rede pública", observa o ginecologista, obstetra e pesquisador na área de saúde da mulher, Marcos Dias. "A sociedade começou a responder por estar se sentindo enganada. As gestantes combinam com seus médicos que querem o parto normal e, na última hora, escutam uma desculpa para a cesárea. Médicos não querem esperar, e casas de parto são feitas para isso", completa Francisco Vilella, homeopata, ginecologista e obstetra.

Três dias antes do nascimento de Raphael, a chefe Marina Campliglia, 30, ouviu da médica que a acompanhava "que o bebê era muito grande e havia uma incompatibilidade entre o tamanho da cabeça dele e o da pelve dela". "Estava na 41ª semana e sabia que seria provavelmente a minha última consulta. Saí chorando. Três dias depois, as contrações vieram. Virei para o meu marido e disse: "Vou para a casa de parto agora.'"
Marina não hesitou em percorrer, os 40 minutos correspondentes à distância entre a sua casa, em Moema, bairro nobre da zona sul de São Paulo, e a Casa de Parto de Sapopemba, na periferia da zona leste. "Desci do carro, e a bolsa estourou. Raphael nasceu comigo, com o pai e com a parteira. Sem anestesia, sem nada. Dez horas depois, peguei minhas coisas e voltei para casa, sem passar por mil médicos. Foi perfeito."
Grávida de sete meses, a escritora Micheliny Verunschk, 33, única mulher finalista na última edição do prémio literário Portugal Telecom, está dividida entre ter a filha Nina numa casa de parto ou em sua própria casa.
"Como leiga e mãe de primeira viagem, tinha certeza de que estaria mais segura se tivesse o bebê numa maternidade. Até que a médica me falou que se sentira "ofendida" por primas que optaram por partos na água e em casas de parto. Aquilo acendeu luzes de alerta em mim", lembra. Tomada pela dúvida, dedicou-se a pesquisar. "Fui ler, buscar informações na internet e conversar com outras mulheres. Comecei a notar que a cesárea continua a ser o procedimento médico mais cômodo."
A escritora, que ressalta que nunca seguiu "a linha natureba", diz ter começado a questionar os hospitais. "Descobri que [nos hospitais] procedimentos contra-indicados pela OMS para partos normais, como a tricotomia e a episiotomia, são rotina. Não quero parir em um hospital, a menos que seja necessário. Acho que meu lado "bicho" despertou."
A distância da sua casa até à casa de parto é o empecilho de peso. "Talvez por isso decida ter em casa. Veja bem, quantas vezes você ouviu falar de infecção domiciliar? Já de infecção hospital, eu ouvi inúmeras histórias."
Um estudo publicado pelo "British Medical Journal" acompanhou 5.418 nascimentos domiciliares monitorados por parteiras nos EUA. A conclusão foi que, para mães saudáveis, as chances de um parto seguro são as mesmas em um hospital ou em casa. Do total de grávidas acompanhadas, 87% pariram sem necessidade de intervenção médica. Só 3,4% das parturientes foram transferidas para hospitais; 4,7% utilizaram anestesia; 2,1% fizeram episiotomia, 1% precisou de fórceps. A pesquisa demonstra ainda que as percentagens de intervenção são mais baixas do que as de partos em hospitais.

POLÉMICA
Criadas há seis anos, as casas de parto tornaram-se o centro de um fogo cruzado entre as categorias de profissionais de saúde. Isso porque o texto da portaria que as oficializou permite que elas funcionem sem que seja obrigatória a supervisão de um médico, podendo ser geridas por enfermeiras-obstetras.
Referidas, como sendo "pouco seguras", por instituições como a Febrasa (Federação Brasileira das Associações de Ginecologia e Obstetrícia) enfrentam severas críticas. Criadas para atender gestantes de baixo risco, não contam com centros cirúrgicos.

"Esses lugares não oferecem segurança absoluta à gestante. Não posso concordar que o nascimento de uma criança não conte com a presença de um neonatologista ou que a mãe não tenha um anestesista para aliviar sua dor. É um retrocesso", avalia Luiz Camano, professor da Unifesp (Universidade Federal de São Paulo) e presidente da Comissão de Assistência ao Parto da Febrasgo.
Em 2004, quando foi inaugurada a casa de parto de Realengo, no Rio de Janeiro, o Conselho Regional de Medicina entrou com uma ação judicial para impedir o funcionamento da unidade.
"Até hoje vivemos numa briga sem fim com eles", comenta a enfermeira-obstetra Leila Gomes Ferreira de Azevedo, coordenadora da casa que, até a última quinta-feira, já tinha realizado 352 partos. "A média atual é de 36 por mês, mas queremos chegar a 80", afirma.
A casa de parto de Realengo atende moradoras do bairro e de algumas regiões do vizinho distrito de Bangu e oferece um serviço de pré-natal que inclui práticas desde a respiração a orientações de cuidados com o bebê. As mães que têm seus filhos ali ficam em quartos com cama de casal, com o bebê e o companheiro.
Tudo isso encantou a pedagoga Malila Barros Wrigg, 24, que, como morava na região assistida pela unidade, decidiu, já no quinto mês de gravidez, deixar para trás o obstetra que a acompanhava desde a adolescência e, com ele, todos os hospitais catalogados por seu plano de saúde, para dar à luz em Realengo.
"Quando disse que queria ter o bebê numa casa de parto, enfrentei muita resistência da minha família. Mas meu marido me apoiou, e me envolvi totalmente com as palestras e as oficinas do pré-natal. Em nenhum outro lugar aprenderia tanto quanto aprendi ali", enfatiza.
Porém, na primeira hora do dia 18 de Dezembro de 2004, a bolsa de Malila rompeu seguida de um grande sangramento. A hemorragia a tirou do protocolo de gestante de baixo risco. Tratava-se de um descolamento prematuro de placenta, e ela foi transferida para uma maternidade pública no bairro vizinho.
O parto de Clara, hoje com oito meses, teve uma série de complicações. Depois de uma cesariana de urgência, a criança nasceu com morte aparente. "Foi frustrante, mas, naquela situação, ouvindo o coração da minha filha quase parar, a possibilidade de cirurgia apareceu como uma solução", lembra Malila, que continua defendendo as casas de parto, desde que sejam anexas a hospitais.
De acordo com dados do Ministério da Saúde, somando o volume de partos realizados nas casas de Belo Horizonte, Juiz de Fora e do Rio de Janeiro entre 2001 e 2004 chega-se a um total de 4.838. Houve seis óbitos neonatais. Nenhum óbito materno ocorreu. "A casa de parto é totalmente segura para as gestantes saudáveis", reforça o obstetra Marcos Dias. "O conceito de gravidez de baixo risco é ultrapassado. Uma gestante de baixo risco se converte numa parturiente de alto risco inesperadamente", rebate Luiz Camano.

ALTERNATIVA AO HOSPITAL
Enquanto as mães reivindicam o protagonismo dos partos, as doulas - versão moderna de parteira, conselheira e incentivadora do parto normal- actuam como coadjuvantes de peso. "A classe médica ficou desatualizada sobre como conduzir nascimentos. O parto, como a vida, tem riscos. Mas isso não justifica a hospitalização desnecessária", observa a doula Maria de Lourdes Teixeira, a Fadynha.
Entre as várias discussões possíveis, o facto é que as mulheres estão a reavaliar como devem parir as suas crianças. É o caso da arquitecta Carla Demattio, 34, que vive o processo de escolher onde vai ter o seu bebé e está a considerar a Casa de Parto de Sapopemba uma das suas opções. "Acho que seria uma saída para fugir das rotinas dos hospitais", explica.

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq0610200504.htm
Onde encontrar
Belo Horizonte (MG)
Centro de Parto Normal do Hospital Sofia Feldman
Rua Antonio Bandeira, 1.060, Tupi
www.casasdeparto.com.br/casasdeparto/sofiafeldman.asp

Brasília (DF)
Casa de Parto de São Sebastião
Unidade Mista de Saúde, Centro de Múltiplas Atividades, conjunto 10, centro, São Sebastião

Fortaleza (CE)
Centro de Parto Normal do Hospital Distrital Gonzaga Mota de Messejana
av. Washington Soares, 7.700, Messejana
Itapecerica da Serra (SP)
Centro de Parto Normal do Hospital Geral de Itapecerica da Serra
Av. Guacy Fernandes Domingues, 200, Itapecerica da Serra

Juiz de Fora (MG)
Casa de Parto de Juiz de Fora
Rua Benjamin Constant, 790, centro
Rio de Janeiro (RJ)
Casa de Parto David Capistrano Filho
Av. Pontalina, s/n, Realengo
www.casadeparto.kit.net

São Paulo (SP)
Casa de Parto de Sapopemba
rua São José das Espinharas, 400, Sapopemba
Casa de Maria
rua Salvador Balbino Matos, 400-A, Itaim Paulista

Sites:
www.partonatural.com.br
www.amigasdoparto.com.br
www.partohumanizado.com.br
www.doulas.com.br
www.doulas.org.br
www.casasdeparto.com.br
www.maternidadeativa.com.br
www.partohumanizado.blogger.com.br
www.xoepisio.blogger.com.br
www.partoemcasa.weblogger.terra.com.br
www.birthdiaries.com/
www.maternitywise.org
www.socalbirth.org
www.waterbirth.org
www.homebirth.org.uk/
www.childbirth.org/
www.victoriousbirth.com/
www.unassistedchildbirth.com/
www.activebirthcenter.com/
www.gentlebirth.org/

Tire suas dúvidas
O que é uma casa de parto?
Os CPN (Centros de Parto Normal) foram criados pelo Ministério da Saúde em 1999 e são definidos na portaria 985 como "unidade de saúde que presta atendimento humanizado e de qualidade exclusivamente ao parto normal sem distócias"

Toda mulher pode ter seu bebê em uma casa de parto?
Não. Apenas aquelas cuja gravidez é de baixo risco, ou seja, sem nenhum problema e com tempo igual ou superior a 37 semanas. Algumas casas de parto -como a de Realengo, no Rio de Janeiro- restringem seu atendimento a moradoras da vizinhança

Quem não pode dar à luz numa casa de parto?
Gestantes hipertensas, diabéticas, cardiopatas ou que apresentam algum quadro patológico; grávidas que entram em trabalho de parto com tempo gestacional inferior a 37 semanas; grávidas de gêmeos; gestantes que já tiveram um parto cesárea

A casa de parto tem médicos?
Não necessariamente. De acordo com a portaria que os criou, os Centros de Parto Normal podem ser dirigidos por enfermeiras-obstetras. Alguns, como o de Brasília, têm médicos em seus quadros, mas não é obrigatório

Há equipamentos para socorrer o bebê?
Sim. Os centros dispõem de equipamentos para reanimação do bebê e monitoramento dos batimentos cardíacos e do líquido amniótico durante o trabalho de parto, além de incubadora móvel para o caso de a transferência da criança a um hospital

Como é o parto?
A mãe é estimulada a protagonizar o nascimento do bebê. Durante o trabalho de parto ela pode comer, ingerir líqüidos, andar, tomar um ducha ou ficar dentro d'água numa banheira, ficar de cócoras ou na posição que lhe for mais conveniente

O que a casa de parto não faz?
Parto cesárea, tricotomia (raspagem dos pêlos pubianos), lavagem intestinal, aplicação de anestesia, corte do períneo. O uso de ocitocina (substância que acelera o trabalho de parto) e a perfuração da bolsa podem ocorrer, mas não são rotina.

Pode dar errado?
Pode. Em caso de complicação durante o trabalho de parto, a mulher é transferida a um hospital público que atua em parceria com a casa de parto. Ela não pode escolher para qual hospital quer ser levada. Todos os centros têm ambulância.

Quando há transferência para um hospital?
Em casos de descolamento prematuro de placenta, sangramento, pressão alta da parturiente durante o trabalho de parto, presença de mecônio (fezes do feto) no líquido amniótico, bradicardia (diminuição dos batimentos cardíacos) ou sofrimento fetal.

Como é alojamento?
Em algumas casas de parto, é conjunto -as mães ficam juntas em quartos coletivos. Em outras, como a do Rio de Janeiro, a mãe fica em quarto com cama de casal junto com o bebê e o acompanhante. Os bebês sempre ficam na companhia da mãe.
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Fontes: casas de parto, mães, médicos e enfermeiros

http://www1.folha.uol.com.br/fsp/equilibrio/eq0610200506.htm

De TATIANA DINIZ - DA REPORTAGEM LOCAL, em Folha SP (06.10.05) - adaptado por Sónia Sousa

quinta-feira, 6 de outubro de 2005

Cesariana Eleva Risco de Cárie em Bebés


29 de agosto, 2005 - 12h58 GMT (09h58 Brasília)

Cesariana eleva risco de cárie em bebés, diz pesquisa

Crianças que nascem por meio de cesariana correm mais risco de ter cáries no futuro, segundo cientistas americanos.

Uma pesquisa feita na Universidade de Nova York analisou os históricos de 156 bebés e concluiu que os que nasceram por cesariana foram infectados com uma bactéria que causa cáries um ano antes que os que vieram ao mundo por parto normal.
Isso porque eles estavam mais expostos a bactérias durante o parto, afirmam os cientistas.
Em artigo publicado na revista académica Journal of Dental Research, os autores do estudo admitem, porém, que factores sociais também influenciam a proporção da incidência de cáries nos dois grupos.

Streptococcus mutans
Em média, os 29 bebés do grupo analisado que haviam nascido por cesariana mostraram os primeiros sinais de presença da bactéria streptococcus mutans 17 meses depois de verem a luz.
Entre os 127 que nasceram por parto normal, as bactérias começaram a se manifestar 29 meses após o parto.
A streptococcus mutans cresce na superfície dos dentes e logo acima da linha da gengiva, onde trabalha na transformação de alimentos em ácidos.
Ela é transmitida aos bebés principalmente pelas mães, por causa do contacto íntimo que possuem.
Estudos anteriores haviam estabelecido que, quanto antes se desenvolve a bactéria, é maior a incidência de cáries nas crianças.

Resistência

“Crianças que nascem pela vagina oferecem um ambiente menos hospitaleiro às bactérias orais”, disse o chefe dos cientistas, Yihong Li.
“Elas desenvolvem mais resistência a estas bactérias no primeiro ano de vida, em parte por causa da exposição a uma maior variedade e intensidade de bactérias de suas mães no ambiente que cerca o nascimento.”
“As crianças que nascem em cesarianas expõem-se menos a bactérias ao nascer, e por isso desenvolvem menos resistência.”
Por outro lado, ele admitiu que as mães que deram à luz por cesariana e fizeram parte do estudo tinham uma incidência maior de cáries, maior histórico de doenças venéreas e rendimentos mais baixa, o que pode ter contribuído para os resultados da pesquisa.
Artigo retirado de BBCBrasil.com