Hoje em dia, é proposto a muitas mulheres a indução do parto, quando o bebé não quer nascer a partir da 40ª semana... e às vezes até antes (dizendo-se que já pode nascer, já está de termo...), sem que haja qualquer situação clínica que o justifique. Muitas mães aceitam (algumas até o sugerem, de tal forma a indução está banalizada)... estão cansadas de estarem grávidas, já se sentem desconfortáveis, ansiosas por conhecerem o seu filho, e geralmente não questionam a proposta de um obstetra.
Mas o facto de se estar no final da gestação, não significa que o bebé esteja preparado para nascer... só significa que sobrevive sem problemas aparentes. Mas o que é que nós desejamos para os nossos filhos? Que simplesmente sobrevivam? Ou que nasçam no momento que lhes é mais favorável, aquele que eles próprios determinam em harmonia com o corpo da mãe?
As mulheres não são todas iguais, e os bebés não amadurecem todos no mesmo “prazo”, tal como os frutos de uma mesma árvore não amadurecem todos ao mesmo tempo.
Se o bebé ainda não nasceu não será porque ainda não está preparado para nascer? Vivemos numa sociedade cada vez mais imediatista, consumista e crente na tecnologia... e isso também se reflecte na forma como temos os nossos filhos.
Se procurarmos as respostas no conhecimento da fisiologia, sabemos que é o bebé que deve dar o sinal para iniciar o trabalho de parto. Quando os seus pulmões atingirem o auge da maturidade ele liberta hormonas que despoletam o trabalho de parto, estimulando o hipotálamo da mãe a produzir a hormona natural oxitocina, que por sua vez provoca as contracções uterinas.
Isso significa que o bebé vai nascer no momento que respeita o desenvolvimento óptimo de cada criança, escolhido por ela.
Que tipo de mensagem enviamos ao nosso filho quando não lhe deixamos que ele próprio faça aquilo para que foi biologicamente destinado? É um primeiro acto de auto-determinação que lhe é negado. “Não vais nascer quando quiseres, mas sim no dia que dava jeito à mãe ou ao médico”.
Não existe uma data fixa para o nascimento e não há razão para se pensar que um bebé tem forçosamente que nascer até às 40, às 41 ou mesmo às 42 semanas, até porque às vezes a idade gestacional não está bem definida. Deve-se considerar um período provável para o nascimento (entre as 38 e as 42 semanas após o primeiro dia do último período menstrual) e não uma “data prevista” pois isso simplesmente não existe. Ainda assim, no final de uma gestação prolongada, deve-se acompanhar com maior atenção o bem-estar do bebé, contando os movimentos, ouvindo o coração diariamente, verificando se há perdas de líquido com cor esverdeada, fazendo uma ecografia em caso de ansiedade ou dúvidas.
Se estiver tudo bem, para quê induzir? A indução tem riscos sérios e uma grande parte das induções falha resultando em cesariana ou partos vaginais complicados, instrumentalizados e muitas vezes traumáticos para mãe e filho. Quando a indução resulta é porque muito provavelmente o bebé estava para nascer nessa altura de qualquer modo. Então não valerá a pena esperar?
Num parto induzido, é administrada à mulher pitocina (oxitocina artificial) através do soro intravenoso, com o objectivo de imitar a acção da oxitocina natural. Esta hormona sintética liga-se aos receptores uterinos para a oxitocina natural, inibindo a sua produção e recepção normal. As contracções induzidas artificialmente são mais dolorosas, mais agressivas para o útero (aumentando o risco de ruptura uterina) e mais perigosas para o bebé, que pode entrar em stress mais facilmente, o que é muitas vezes sinalizado pelo CTG e lá se vai para a cesariana, com todas as desvantagens que esta grande intervenção cirúrgica acarreta para o bebé e para a mãe. Além disso a pitocina, ao contrário da oxitocina natural segregada pelo nosso hipotálamo, não atravessa a barreira cerebral da mãe e portanto não tem efeitos comportamentais ao nível do vínculo precoce mãe-bebé.
Como as contracções induzidas artificialmente são mais dolorosas e arrítmicas, a mãe sente maior necessidade de recorrer à anestesia epidural, que também acarreta um conjunto de riscos para mãe e filho, nomeadamente aumenta a probabilidade de um parto instrumentalizado e da separação precoce mãe-filho, para observação e intervenção, interferindo com o vínculo precoce e o sucesso da amamentação e potenciando também situações de depressão materna pós-parto.
No parto fisiológico, quando se deixa o nosso próprio corpo conduzir o processo, as contracções naturais são mais suaves, rítmicas e adaptam-se às necessidades do bebé. Vão crescendo gradualmente em duração e intensidade, intermediadas por intervalos de descanso. Quando não se interfere com este processo, o nosso organismo segrega juntamente com a oxitocina, outras hormonas benéficas, nomeadamente as endorfinas que atenuam a sensação de dor e suavizam o processo para mãe e filho.
Muitos partos traumáticos e cesarianas poderiam ser evitados hoje em dia, se as mulheres fossem devidamente informadas dos riscos dos procedimentos e se se responsabilizassem por fazer as suas próprias escolhas informadas e conscientes, ao invés de se demitirem dessa responsabilidade e assumirem que um profissional de obstetrícia é quem melhor pode decidir por si. Os médicos com uma postura humanista sabem que devem encorajar a mãe a tomar as suas próprias decisões, com base nos factos e nas evidências científicas, e não em conveniências pessoais e institucionais. Para contrariarmos um sistema industrializado de nascimentos, para que o nascimento em Portugal caminhe no sentido de ser uma experiência positiva, gratificante e verdadeiramente saudável e segura para cada mulher e seus filhos, nós mulheres precisamos de ter a informação e o apoio necessário nessa altura das nossas vidas e resgatarmos para nós um papel central na condução dos nossos partos.
Mais informação:
http://hencigoer.com/articles/ ver os artigos sobre Induction of labour
http://www.motherfriendly.org/Downloads/induct-fact-sheet.pdf Riscos da Indução
http://www.maternitywise.org/mw/topics/birthsetting/ Fisiologia do parto – as hormonas naturais
http://www.holistika.net/articulo.php?articulo=54019.html Violência hospitalar – o uso da pitocina
7 comentários:
Ora aí está uma coisa que eu não queria: um parto induzido. Gostava de ter o meu bebé o mais natural possível, mesmo sem o uso à epidural. Mas toda a gente acha que eu sou maluca...
Será que nos PPP nos ensinam a ir para o Hospital com o trabalho de parto praticamente feito?
maririta,
Lamento a sua postura que senti ser agressiva e de oposição ao trabalho das doulas. Não entendo que razões estejam por trás da sua atitude, uma vez que não tem nada a apontar ao texto que aqui colocámos. Os benefícios das doulas estão comprovados cientificamente e o seu contributo para a humanização do parto é internacionalmente reconhecido, inclusive por ilustres obstetras como o Dr. Michel Odent (de quem recebemos formação), Dr. Ricardo Jones, coordenador da Rede de Humanização do Parto no Brasil, Dr. Don Creevy dos EUA, isto para citar apenas 3 exemplos.
O trabalho que uma doula faz pode ser com certeza desempenhado por um pai ou outra pessoa amiga/familiar que a mãe escolha, desde que essa pessoa tenha a necessária confiança no processo do parto e esteja familiarizada com ele, de forma a poder transmitir tranquilidade, apoio e proteger as necessidades básicas da mulher em TP. Acontece que para muitas mulheres essa pessoa, com esse perfil, não existe. Muitos homens não sentem vontade de assistir ao parto e estão no seu direito. Muitas mulheres também sentem que o marido não será o apoio que mais desejavam nessa altura. E não é a preparação para o parto convencional que temos em Portugal que prepara os acompanhantes para desempenhar esse papel. De qualquer forma a escolha do acompanhante é um direito da mulher e há muitas mulheres que querem de facto escolher uma doula, para a apoiar a si e ao companheiro. Mas sobre a importância do apoio no parto há excelentes textos na Internet: Pode começar por aqui: http://www.maternitywise.org/mw/topics/laborsupport
A doula é uma pessoa que escolhe este caminho para a sua vida por vocação, não por dinheiro. As doulas trabalham com honorários extremamente flexíveis e inclusive voluntariado, porque acima de tudo acreditam numa causa – não deixar nenhuma mulher sem o acompanhamento que deseja. A doula é uma pessoa que busca constantemente informação de fontes fidedignas, e que baseia aquilo que diz em evidências científicas. Não é uma estranha para a mãe, pois conhecem-se e constroem uma relação de empatia antes do parto. No entanto, se conhecesse as investigações de Kennel e Klaus (1993), saberia que os benefícios do acompanhamento pela doula foram demonstrados com doulas "estranhas" às parturientes. Quantos estranhos não circulam à volta de uma parturiente nos nossos hospitais? Porque é que essa característica na doula o incomoda?
Quanto ao período de espera de 48 horas com bolsa rota, desde que não haja sinais de alarme (cor do liquido, má disposição, ausência de movimentos do bebé) é uma atitude sensata que a grávida pode tomar se assim o desejar. Essa informação foi-nos transmitida directamente por Michel Odent e é baseada nas melhores evidências científicas.
As doulas não prestam conselhos. Encorajam o casal a informar-se e tomar as suas próprias decisões. Infelizmente esse poder de decisão da mulher assusta alguns “profissionais”, e talvez por isso as doulas sejam vistas com algum desconforto, porque tornam a população mais exigente face ao nosso sistema de saúde. Eu chamo a isso evolução, mas também não me choca que lhe chame radicalismo. Galileu e Sócrates também foram considerados radicais no seu tempo.
As doulas não pretendem contrariar a baixa taxa de mortalidade materna e neonatal de que fala. Simplesmente as doulas não se contentam apenas com mães e bebés vivos. Gostaríamos que as mães saíssem do parto inteiras, felizes, realizadas, com a sua saúde integral e a dos seus filhos verdadeiramente respeitada.
De qualquer forma é com agrado que verifico que não considerou o meu texto “radical”, já que parece concordar com ele. Já pensou que talvez esteja a fazer um julgamento algo precipitado e preconceituoso? Espero que um aprofundamento da sua pesquisa sobre o tema doulas, lhe permita mudar de opinião.
Olá, boa tarde
Eu já era contra o parto induzido mas, após ler o vosso texto, fiquei sem qualquer dúvida. O meu filho nascerá quando bem entender. Nem eu, nem qualquer profissional de saúde tem o deireito de decidir quando será a melhor hora para que ele nasça. Tal como entrou, terá de sair.
A minha irmã, quando teve a 1ª. filha (há 12 anos) o médico disse-lhe que, se a menina não nascesse até ao dia 7 de Julho para ela estar no Hospital às 9 da manhã. Assim fez. No dia e hora marcada, lá estava ela, de mala e cuia, à porta do hospital. Para quê? Começaram logo a indução do parto mas a menina só nasceu às 19:15 do dia seguinte.
A partir daí fiquei com pavor ao parto porque a minha irmã teve um sofrimento de mais de 24 horas, o qual acho que foi desnecessário (ela só tinha 16 anos). Agora tem outra menina com 14 meses, a qual nasceu quando quis e o sofrimento foi quase nulo. É claro que, por causa do 1º. parto, ela estava com medo deste. E quem não estaria? Até eu fiquei com medo desse momento.
Peço desculpa pela extensão do comentário.
Sofia
Teria feito um parto induzido se soubesse que, não fazendo, ia passar por isto: http://primeiraqueixa.blogspot.com/2005/11/denncia.html
Se tivesse feito a indução isto não teria acontecido...
http://primeiraqueixa.blogspot.com/2005/11/denncia.html
certo?
(já tentei enviar um comentário antes mas n foi autorizado)
VF
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