Uma doula é uma mulher que está com a mãe durante o trabalho de parto, que lhe presta cuidados não médicos, ou seja apoio emocional, físico, informativo e que defende os interesses da mãe, em particular as suas decisões tomadas conscientemente e informadamente. No hospital, a doula torna-se ainda mais importante pois aí o pessoal médico não tem disponibilidade para prestar assistência personalizada, devido à grande sobrecarga de trabalho, e o pai muitas vezes não se sente verdadeiramente confortável por estar ao lado da mãe, nem sabe como ajudar e pode pôr a mãe mais nervosa. As doulas trazem assim benefícios para todas as partes envolvidas. As doulas também podem prestar cuidados pós-parto, por exemplo cozinhando uma refeição, fazendo pequenas tarefas domésticas que permitam à mãe passar mais e melhor tempo com o seu bebé nos primeiros dias. Há doulas que se especializam só no parto ou só no pós-parto. Não é necessária formação específica, mas sim uma busca constante de informação actualizada e fidedigna. A formação vem antes de mais da própria experiência da maternidade, de um forte sentido feminino e de uma real vocação para ajudar outras mulheres. No entanto há programas de formação que inclusive oferecem certificação e isso pode constituir uma critério de qualidade para algumas mulheres que procurem este serviço. O mais importante será, sobretudo, o estabelecimento de uma relação de confiança entre a mãe e a doula durante a gravidez, de sentirem que há uma sintonia e um bem estar quando estão juntas pois esse sentimento de segurança é essencial para uma mulher em trabalho de parto.
Ainda assim, uma doula é mais do que isto. É alguém que conhece e compreende a fisiologia do parto, e que portanto respeita e tenta assegurar as necessidades básicas de uma mulher em trabalho de parto (privacidade, sentimento de segurança, luz baixa e pouca utilização de linguagem). O aspecto mais importante para o bom desenrolar do parto é a não estimulação do neocortex. O parto é um processo fisiológico comandado pela parte primitiva do nosso cérebro, que segrega um cocktail de hormonas que induzem as contracções uterinas, analgesizam naturalmente a dor e preparam o bebé para nascer. Entramos num estado alterado de consciência. Quanto maior for a actividade do nosso cérebro intelectual, o neocortex, menos eficaz será o funcionamento do cérebro primitivo. Há mulheres extremamente racionais, que querem ter um parto natural mas depois não conseguem libertar-se de tentar controlar racionalmente o fenómeno, tentar saber a dilatação que têm a cada momento etc. Isso é prejudicial. Algumas pessoas falam nas doulas como alguém que está lá sempre ao lado, a falar, a dar força, a dizer tu és capaz... como se fosse um "treinador". Mas isso é o oposto do que se pretende. A doula deve essencialmente proteger a mulher da estimulação ambiental e confiar que o seu corpo vai fazer o trabalho bem feito. Toda a mulher sabe parir, mas no meio do barulho desta sociedade moderna podemos precisar de o redescobrir.
Carla Guiomar
Sem comentários:
Enviar um comentário